IronMan 70.3 Maceió 2022: a pré largada — PARTE 1
Confesso que ainda estou tentando entender tudo que aconteceu e colocar em palavras está mais difícil do que eu imaginei que seria.
Agora, nesse pós prova, meus pensamentos já passaram em dar um tempo de distâncias maiores e também já me vi com a página do site aberta e pronta para me inscrever no próximo. Vou com calma. Talvez quando eu começar a explicar tudo que aconteceu as coisas façam mais sentido, tanto pra mim como pra você que está lendo esse texto.
A verdade é que fazer uma prova de endurance, seja ela qual for envolve um esforço de toda uma rede de apoio. O dia da prova em si, é a festa… o difícil é a rotina.
Por isso que falamos tanto em aproveitar o caminho e tentar fazer com que ele seja prazeroso.
Perceba que não estou dizendo que é uma jornada leve, porque não é. E isso não significa que seja ruim, porque não é também. É uma jornada que você precisa ter a cabeça boa pra conciliar família, treinos, trabalho, vida social… é uma atividade diária de equilibrar pratinhos.
Ao invés de falar de leveza, vamos falar que em disciplina e saber fazer escolhas inteligentes. Assim faz mais sentido.
Tomar uma decisão de fazer uma prova dessa envolve uma análise prévia sobre disponibilidade de tempo para treinar, de dinheiro para investir e de definir prioridades. Isso é essencial.
Dito isso, estou segurando um pouco a onda antes de pensar nos próximos. Eu preciso entender como ficará minha vida nos próximos meses, tem muita mudança para acontecer.
Mas agora, vamos a prova.
PRÉ PROVA
A minha confiança nos profissionais que me assistiram durante todo o ciclo é enorme, associado a isso, eu sabia que tinha feito tudo que me foi pedido e que estava ao meu alcance, eu estava preparada.
Uma das técnicas que eu aprendi sobre ansiedade é me apegar em coisas que são reais. Então eu procurei números e informações relevantes que iam me ajudar a me sentir bem. A informação de maior impacto foi a quantidade de treinos planejados x realizados.
Foram 277 treinos planejados e 265 realizados. Ou seja, eu fiz 95,67% dos treinos.
(E os que eu perdi foram por fatores externos como temperatura da água ou logística em condições de viagem).
Isso tudo me fez estar tranquila.
Check-in bike no sábado
Sábado de manhã o Paulinho, meu treinador, deu uma geral na minha bike, enchemos o pneu a 85 psi, ele revisou tudo e deixou um brinco pra prova. Estava tudo certo para o meu check in 14:30, era só esperar mesmo.
Eu aproveitei para dar uma descansada e por volta de 14h me levantei para conferir a bike, novamente. Foi quando eu notei que o meu pneu estava no chão.
Nesse momento eu confesso que foi um pouco tenso, porque se tinha uma coisa que eu não queria ter que fazer era trocar pneu durante a prova, por mais que eu tivesse treinado várias vezes, não queria ter que passar por isso.
Mas, enfim, na mesma hora pensei “sorte que isso aconteceu em casa…”
Fazendo uma breve autópsia na bike, percebemos que a fita que fica dentro do pneu estava dobrada de quando eu murchei a câmara de ar para colocar no mala bike e transportar no avião e, depois, quando enchi de novo, ela deu uma fisgada e furou.
Optamos em retirar a fita por completo e proteger o pneu com fita isolante, não é o ideal, mas resolve bem.
(Passei rápido por esse momento, porque foi o menor dos perrengues, mas a história completa é que a fita isolante acabou na metade do pneu, eu e minha mãe tivemos que ir no supermercado comprar e o homem disse que não tinha mais fita lá e nem em nenhum lugar da região… eu já estava pensando em mil alternativas, inclusive usar o mecânico absurdamente caro da prova… como se fosse uma pegadinha, o homem reapareceu do nada dizendo que achou a fita e nos salvou! ufa)
Pneu devidamente arrumado, fomos levar a bike no check in por volta de 15h, ainda dentro do tempo, que era até 15:30. (Nesse caso atrasar um pouco não seria um problema, mas em respeito a organização e ao tempo das pessoas, não queria ter que levar depois do horário planejado)
Aqui foi a primeira grande emoção, entrar naquela área de transição das bikes, sentir um pouco da energia do que estava por vir. Foi demais! Um pouco intimidador, mas incrível.
A noite pré prova
Eu deitei para tentar dormir 20h, reforço o tentar, porque foi uma noite em claro. Virava pra um lado, pro outro e o sono não vinha.
A expectativa gerada pela incerteza do resultado é algo fascinante. O dia de um 70.3 é longo, tem muita coisa que pode acontecer, coisas que fogem do nosso controle. E é aí que mora o que mais me brilha os olhos do triathlon, essa necessidade de tomarmos decisões rápidas e importantes o tempo inteiro, sem saber exatamente o que está por vir, mas sabendo que vai existir uma coroação na linha de chegada.
Nesse vai e vem de pensamentos, eu lembrei da época dos jogos de basquete nos dias que antecediam grandes jogos, era o mesmo sentimento. Nessa insônia minha técnica dizia: “não tem problema não conseguir dormir, pelo menos fica deitada, com os olhos fechados e as pernas para cima, você vai estar, pelo menos, descansando”
Fiz isso. E fiquei dessa forma até 4h da manhã esperando, ansiosamente, meu despertador tocar.
Ele tocou e meu tempo de reação foi incrível, já estava de pé na expectativa de conseguir ir ao banheiro. Era meu primeiro desafio do dia: fazer o número 2 antes da prova! (é real isso, tá?) Deu certo.
O DIA DA PROVA!
Eu estava ansiosa. Dizia o tempo todo “to passando mal”, mas um passando mal que não me limitava de ir, era mais um desabafo que no fundo eu queria dizer “chega logoooooo”. Eu queria largar. Era hora da festa!
Como estávamos hospedados a 100m da largada, o deslocamento foi muito simples e rápido. Eu acordei 4h e a expectativa de saída para a largada era 5:20, com o plano de passar pela bike, conferir os pneus, colocar os suplementos e últimos equipamentos na transição e já ir me concentrar, sozinha, perto do mar.
Eu tive dificuldade para comer, não me desceu o pão e nem as frutas que tinha planejado comer. Por isso, acabou que eu comi menos do que o desejado, mas dentro do que eu senti que me faria bem.
(Pausa para um momento fofo aqui, minha irmã, mãe e Le estavam com uma camisa escrito Team Gabi Melo nas costas e na frente “Vida de quem Nada, Pedala & Corre”. Foi especial!)
Passei o meu laquê no cabelo, respirei fundo, conferi o material da transição e partimos!!! Ahhhhh
Em breve continuação…
Mas antes…
Não tem como começar a contar da prova, em si, sem antes falar da Le.
A Le esteve comigo desde o meu primeiro mês de treino.
Com ela, eu sai a primeira vez de bike de estrada na rua, comprei minha sapatilha, cai clipada (algumas vezes), comemorei que não cai e vivemos outros tantos momentos que fizeram tudo isso ser algo ainda mais especial.
Ela ficou do meu lado durante todas as gastroenterites que tive (várias), assustou- se nos desmaios no meio da noite (e eu também) e vibrou comigo cada nova distância percorrida.
A Le é a melhor parceira que eu poderia ter. Eu não canso de dizer que tenho sorte. E já que a sorte está ao meu favor, eu é que não sou boba de deixar ela ir embora.
Obrigada por tudo, Ticia, você sabe que é nota 1000, né?!
CONTINUAÇÃO
PARTE 1: pré largada
PARTE 2 : largada e natação
PARTE 3 : ciclismo