O meu rendimento não é linear. É constante.
Pareceu óbvio quando comecei a escrever, já que não faria o menor sentido eu acreditar que o meu rendimento seria linear sabendo que a vida, em si, não é. Nosso corpo não é. E um reflete o outro, não tem como separar.
Nós estamos em constante processo de adaptação e flexibilização e, por mais que a gente planeje linha a linha, o imprevisto acontece, é normal. Isso não é uma falha, é só a vida acontecendo.
Essa reflexão surgiu em um dia comum quando acordei cedo, como de costume, para treinar. Tinha 21km na minha planilha e seria um treino importante no meu ciclo para o IronMan 70.3 em Maceió.
Levando em conta o meu histórico de treinos e performance, seria O DIA para bater meu recorde pessoal. A expectativa era que terminasse a meia maratona em cerca de 1h45min e eu estava animada, condicionada e confiante para realizar.
Mas eu não me senti bem e com 7km de treino parecia que já tinha corrido 40km e o meu ritmo estava muito aquém do planejado. Parei no km 12, muito fadigada.
Alguns dias depois descobri que estava com COVID e fui obrigada a ficar de repouso. Nesse exato momento, na verdade, estou no meu 5o dia de isolamento. Angustiada para voltar para a minha rotina.
“Quanto será que esse tempo parada vai me prejudicar?”
O X da questão é, essa é a melhor opção. REPOUSO. Eu quero estar 100% para voltar bem, então preciso de paciência. Isso é difícil demais.
Começo a tentar buscar fatos para alimentar minha cabeça de dados reais que me tranquilizem.
“Isso é passageiro e é só um desafio do meio do caminho, ainda tenho mais 7 semanas para a minha prova principal e vai dar tempo de eu me recuperar” — isso é o que estou insistindo em aceitar.
A vida de ninguém é uma linha reta, o que nós podemos é, através da dedicação, nos tornarmos constantes, e ainda assim, dentro da constância sermos não lineares.
Quando olho para trás, e vejo o nível do meu compromisso aos treinos com o único objetivo de completar a prova, percebo o tanto que sou constante, e não linear.
Esse ano eu fiz 221 treinos, de 230. Perdi 9 treinos (sendo 4 de natação — fatores não controláveis), ou seja, menos de 4%, provando a não linearidade do caminho.
Por mais que pareça dramático demais pensar que perder um treino é algo que leve a tantos questionamentos, ainda mais quando se tem todos os contratempos de uma vida, eu preciso fazer uma ressalva que quando o esporte é uma rota de fuga, isso acaba tendo um impacto maior.
E não cabe aqui um julgamento, cabe um acolhimento.
Cada um traça a sua rota. A minha calhou de ser me debruçar em uma rotina intensa de exercícios. E, talvez, tentando fugir eu esteja me encontrando.
Se eu estou sentindo essa angústia de não poder me movimentar hoje, é porque eu me importo. EU ME IMPORTO. Por tanto tempo eu simplesmente não me importei com nada e hoje, enfatizo porque é importante, eu me importo.
O esporte, na minha vida, pode ser uma fuga ou será minha cura?
E nessa rota, onde me entrego aos sentimentos e reflito sobre eles, não posso exigir um rendimento linear. Mas minha disciplina e compromisso comigo mesma, esse sim vão definir o meu resultado.
Ser constante não significa ir independente do que esteja acontecendo, significa tornar-se consciente que aproveitar o caminho é também auto cuidado e que a vida não é feita de uma única linha de chegada. Nós podemos cruzar várias linhas e vibrar com cada conquista de uma forma única.
O segredo está em ser constante, respeitando a não linearidade do processo.